Parto Normal: Segurança para mãe e bebê


escrito por: Tricia em terça-feira, junho 27, 2006 às 11:16 AM.

Jornal Tribuna do Planalto, Editoria de Comunidades - 31.10 a 06.11.04

Índice de cesarianas no Brasil chega a 40%, quase o triplo do recomendado. Saiba por que é melhor evitar uma cirurgia
por: Lucimeire Santos

É com um olhar atento e preocupado que a adolescente P. F. A. ouve as orientações do obstetra Luiz Carlos Pinheiro, na Maternidade Nascer Cidadão, no Jardim Curitiba, região noroeste de Goiânia. O médico tenta convencer a gestante, de 16 anos, sobre as vantagens de se fazer um parto normal. "Você não precisa ter medo. O povo sempre aumenta os riscos. Mas não vai ficar sozinha. Tem sempre alguém com quem pode se comunicar", explica.

Apesar da ansiedade da primeira gravidez, que veio sem nenhum planejamento, a adolescente se diz preparada para enfrentar o desafio. O estímulo vem da própria mãe, que, aos 32 anos, tem três filhos – dois deles, nascidos de cirurgias cesarianas. Na Maternidade Nascer Cidadão, as cerca de 260 mulheres que fazem a consulta do pré-natal diariamente são estimuladas a passar pelo processo natural de parto desde a primeira consulta. Para isso, também há o incentivo à participação paterna em todas as etapas, além da garantia do acompanhamento de um parente ou amigo durante o processo.

Os métodos tentam mudar estatísticas consideradas preocupantes pelo Ministério da Saúde: a média de cesarianas no Brasil corresponde a 39% do total de partos realizados. No Centro-Oeste, a taxa chega a 40%. A média recomendável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é 15%. Ao lançar uma campanha de incentivo ao parto natural, o Ministério da Saúde reforçou que sua posição não está relacionada à contenção de gastos – uma cesariana, no Sistema Único de Saúde (SUS), custa R$ 402, enquanto o parto normal não passa de R$ 291 – e, sim, aos riscos advindos da cirurgia.

Banalização
Médicos ouvidos pela Tribuna do Planalto confirmam que há uma banalização da cirurgia, recomendada apenas quando o parto normal pode colocar em risco a vida do bebê ou da mãe. A intervenção cirúrgica, em muitos casos, pode significar desconforto no pós-parto e recuperação lenta e dolorosa. Segundo o Ministério da Saúde, as cesáreas provocam de três a 20 vezes mais mortes maternas do que o parto normal.


Cultura elitista privilegia cesariana

O elevado índice de cesarianas está associado ao modelo obstétrico brasileiro, que, principalmente após a década de 60, tem se caracterizado pelo alto grau de medicalização. Neste modelo, o médico é o único responsável pelo atendimento durante o trabalho de parto e a figura da parteira é eliminada.

O chefe da Divisão Médica do Hospital Materno Infantil, uma das unidades de referência em Goiânia, Weuler Alves Ferreira, explica que se estabeleceu na sociedade brasileira uma cultura elitista da saúde, que faz com que, nas clínicas privadas, a ocorrência dos partos com intervenção cirúrgica sejam mais freqüentes, já que os pais programam com os médicos o dia considerado ideal. "A paciente do SUS não tem a oportunidade de escolher. Ela chega, é atendida e o serviço vai oferecer o que é necessário para conduzir o quadro dela da melhor forma. Se ela tem uma complicação que impede um parto normal, vai ser submetida a uma cesariana. Do contrário, não", argumenta.

Para o parto normal, é fundamental que se tenha o desejo da gestante. No entanto, segundo o obstetra Luiz Carlos Pinheiro, existe também um problema de ordem econômica. "Por causa do achatamento dos salários, os médicos cada vez mais estimulam as pacientes a realizarem as cesarianas. Com três ou quatro empregos, a cirurgia é mais vantajosa por causa do tempo. Para se fazer um parto normal, muitas vezes o médico tem de cancelar um plantão. No caso cesariana, ele pode programar o melhor horário", explica.

Outro fato observado pelos profissionais é que, no Brasil, em caso de processos médicos envolvendo complicações do parto, é mais fácil o obstetra ser responsabilizado por ter optado pelo parto normal ao invés da cirurgia. "Na Europa, geralmente se é processado porque uma cesariana significa mutilação", diz Pinheiro.

Saiba mais

Benefícios do parto normal

- Recuperação mais rápida da mulher e redução dos riscos de infecção hospitalar.

- Baixa ocorrência de problemas respiratórios para o bebê.

- Possibilidade de se estabelecer um vínculo mais rápido entre mãe e filho, já que, logo após o parto, ela já terá condição para tomar conta do bebê.

- Esteticamente, a mulher não ficará com uma cicatriz no abdômen.

Riscos da cesariana

- Na cesariana, é mais comum a ocorrência de infecção e hemorragias, além da possibilidade de abertura acidental de algum órgão, como bexiga, uretra e artérias.

- A gestante pode, ainda, ter problemas de cicatrização que podem afetar a próxima gravidez.

- A incidência de morte materna associada à cesariana é 3,5 vezes maior do que no método natural.

- No futuro, caso a mulher precise de uma cirurgia de emergência, seu abdômen será mais difícil de ser perfurado.

- Possibilidade de o bebê nascer prematuro.

- Do ponto de vista financeiro, o valor de uma cesariana é superior ao de um parto normal.

Fonte: Ministério da Saúde e médicos ouvidos pela Tribuna do Planalto

Casos em que a cirurgia é indicada

Foram os problemas de hipertensão que levaram a dona-de-casa Cacilda Maria de Jesus, 42 anos, a procurar o Hospital Materno Infantil, em Goiânia, onde, na semana passada, teve seu terceiro parto. Apesar do desejo de que fosse normal, por causa da idade, dos problemas de saúde e de um aborto espontâneo anterior, foi obrigada a passar pela intervenção cirúrgica.

Ela se enquadra em um dos casos em que os especialistas indicam a cesariana. O Ministério da Saúde recomenda que a cirurgia seja feita quando há a chamada "desproporção céfalopélvica", que ocorre quando a cabeça do bebê é maior do que a passagem da mãe; quando há hemorragias no final da gestação ou ocorrência de doenças hipertensivas na gestante. Em casos em que a mãe apresenta diabete gestacional, ruptura prematura da bolsa d'água ou é portadora do vírus HIV, a cirurgia também é indicada.

Mesmo no Hospital Materno Infantil, especializado em casos considerados graves, o chefe da Divisão Médica da unidade, Weuler Ferreira, considera positivo o fato de ainda haver um grande índice de partos normais realizados – segundo ele, uma média 50% do total. Já na Maternidade Nascer Cidadão, apesar do estímulo ao parto humanizado, o diretor-técnico da unidade, Sebastião Leite, afirma que ainda existe um índice alto de cirurgias – em torno de 25%. Ele utiliza esse argumento também para se defender das denúncias feitas pelos vereadores Cláudio Meirelles (PL) e Maurício Beraldo (PSDB) de que a maternidade estaria promovendo um retardamento do processo de parto e, com isso, aumentando o número de mortes neonatais. "De quatro anos para cá, foram apenas 29 mortes. As pessoas, por interesses diversos, levaram os casos à polícia como se tivesse morrido bebê na maternidade. Foram feitas investigações do Ministério Público e do Conselho Regional de Medicina. Nosso índice é o mais baixo da Capital e do Brasil", reitera.

Partos na Rede Pública

• Dados Nacionais/ Cesarianas 2000 2001 2002 2003

• Total
156.397 171.406 187.610 219.684 735.097

• Dados Nacionais/ Partos Normais 2000 2001 2002 2003

• Total
648.319 661.914 688.359 715.555 2.714.147

• Dados Nacionais/ Cesarianas e Partos Normais 2000 2001 2002 2003

• Total
804.716 833.320 875.969 935.239 3.449.244

Fonte: Coordenação-Geral de Suporte Operacional de Sistemas do Departamento de Regulação, Avaliação e Controle (DERAC) - Ministério da Saúde

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1 Respostas a “Parto Normal: Segurança para mãe e bebê”

  1. # Anonymous Adriana Alves

    Bom gente o que posso dizer por experiencia propria,e que pelo menos meu parto foi super tranquilo,tive 2 partos normais e estou gravida de novo e quero parto normal denovo,essa historia que a dor e insuportavel e lenda,agente sente dor mesmo so nos ultimos momentos,alem do mais é maravilhos vc poder sentir seu filho realmente nascer de dentro de vc,e a dor passa na mesma hora.Eu recomendo  

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Tricia Cavalcante: Doula na Tradição, formada pela ONG Cais do Parto, mãe de três, e doula pós-parto.Moro em Fortaleza-CE.


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