O que é uma Doula na Tradição?


escrito por: Tricia em sexta-feira, setembro 05, 2014 às 11:54 PM.

Se buscarmos conhecer a origem e a história da humanidade, certamente encontraremos registros de tempos onde era natural que as mulheres compartilhassem os movimentos dos seus ciclos entre elas. Houve tempos em que mulheres apoiavam umas as outras nas fases de menstruação, fertilidade, cuidados com os filhos, sexualidade, cura, e outras tantas habilidades que permeiam a sabedoria feminina. Esses conhecimentos eram transmitidos como um verdadeiro tesouro entre as gerações. E por causa deles muitas mulheres foram perseguidas e torturadas.
O parto considerado um ritual de passagem, um momento sagrado envolvido pelo mistério da vida e da morte, sempre foi especialmente cuidado, pelas mulheres: amigas, irmãs, comadres, mães, avós. Esse cuidado envolvia desde o apoio físico e emocional, até a ajuda nos afazeres domésticos e cuidado com os filhos mais velhos.Tinha a intenção de proporcionar um ambiente tranquilo para que o bebê chegasse em  harmonia e desfrutasse do aconchego e do leite da mãe. Essas mulheres também atendiam as necessidades da parteira que conduzia otrabalho de parto junto da gestante, e assim aprendiam com ela as que tinham o dom para partejar. Todo esse momento sempre esteve protegido pela espiritualidade, através das rezas, danças e cantos. Ervas e plantas eram utilizadas de diversas maneiras, pelas parteiras, mulheres sábias que reconheciam seus poderes.
A evolução da tecnologia afastou cada vez mais as mulheres destes processos naturais, que diante da busca de fazer parte da linha deprodução e consumo crescente, deixou de valorizar as relações inatas da natureza feminina. A inserção da medicina alopática, não poupou a mulher em seus ciclos, e então a menstruação passou a ser um grande problema, a gravidez uma mudança arriscada e o parto um procedimento com intervenções artificiais e cirúrgicas, na maioria das vezes desnecessárias, protocoladas como normas em instituições públicas e privadas, levando a mulher ao desconhecimento sobre o próprio corpo, excluindo o homem da oportunidade de se envolver com a gravidez, parto e amamentação, e o mais importante, considerando o bebê como um ser não portador de sentimentos e sensações.
Neste contexto, onde as habilidades e os ciclos femininos estão submersos dentro das relações de competitividade entre as próprias mulheres, surge a Doula como profissional, atuando com a intenção de preservar a tradição das sabedorias femininas.  A palavra Doula vem do grego e significa “mulher que serve”. Profissionalmente a Doula cuida especialmente da fase do ciclo gestacional, se comprometendo com a ética e o respeito pelas escolhas da gestante,estando disposta a oferecer suporte e apoiar as questões físicas e emocionais femininas e familiares, podendo associar diversas habilidades naturais de seu conhecimento para beneficiar a mulher grávida, o bebê e o casal, estimulando o vínculo familiar, antes, durante e após o parto.
A Doula também poderá apoiar as mulheres na ressignificação de suas fases de menstruação, fertilidade, sexualidade, menopausa e nas mais variadas necessidades que abrange o universo feminino.
A Tradição valoriza toda riqueza cultural que envolve a sabedoria ancestral das parteiras e curandeiras, utilizando dos dons e recursos naturais com gratidão e generosidade. Reconhecendo e honrando as próprias raízes, encontramos um caminho para simplicidade que nos torna parte do mundo e não nos complica enquanto espécie humana.
As intervenções tecnológicas são importantes quando utilizadas com bom senso e o conhecimento cientifico é válido como informação, sendo variável e mutável, representando menor importância diante da essência da sabedoria ancestral.
Para servir com amor e humildade é essencial que a Doula na tradição reconheça seu próprio universo feminino e honre suas próprias raízes, para assim atuar profissionalmente, compreendendo seus limites, buscando se integrar com as escolhas da mulher, sem julgamentos, oferecendo informações seguras e respeitando os demais profissionais envolvidos neste processo. Em frequência com a cooperação, cada um coloca suas habilidades e talentos a serviço de um objetivo comum.
Na natureza tudo tem seu tempo para desabrochar e o papel do ser humano é fornecer condições que permitam que a natureza reine em toda sua grandeza. Uma vez que nos afastamos do que é natural, nos aproximamos do desiquilíbrio social que tanto nos preocupam. Sem alimentar frustrações vamos aprendendo e evoluindo através de linhas escritas pela sabedoria do tempo.

Leidi Leite - Doula na Tradição


Fonte: Mãos da Lua

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Tricia Cavalcante: Doula na Tradição, formada pela ONG Cais do Parto, mãe de três, e doula pós-parto.Moro em Fortaleza-CE.


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